A luta para manter o maior abrigo de animais de todo o norte nordeste
Lerida Lobo começou adotando animais abandonados e doentes da vizinhança e hoje sua ONG mantém mais de dois mil com doações
Imagine largar tudo e, mesmo sendo criticada, criar o maior abrigo de animais de todo o norte nordeste? O que começou com a adoção de um cãozinho doente, mudou a vida de Lerida Lobo, que hoje comanda a ONG Anjinhos de 4 Patinhas, que cuida de mais de 2 mil animais.
Lerida Lobo é uma lutadora, que sofreu muitas críticas ao decidir acolher vários animais enfermos para tratar e cuidar, criando uma ONG que hoje emprega 35 funcionários e ainda ajuda outras pessoas em Alagoas que cuidam de animais abandonados.
Ao adotar o primeiro animal, as pessoas passaram a abandonar animais em sua porta. “Eu acordava e estava lá, uma gata já morrendo, sufocada, dentro de uma caixa. E o que e fazia? Botava pra dentro de casa. Não tinha coragem de colocar uma gata, que tinha acabado de parir, na rua. E aí, ficou inviável dentro da minha casa lá no bairro do Novo Mundo, cheguei a ter 111 gatos e 16 cachorros”.
A situação acabou afetando a renda da família, pois os gastos passaram a ser altos. “Teve dias que não tinha nada em casa, o dinheiro era pra manter os animais, eu sempre priorizei o cuidado com eles, eram vacinados, castrados, até hoje é assim no abrigo”.
Com o aumento das despesas e sem contar com o auxílio do poder público, Lerida criou um perfil em rede social para pedir auxílio para cuidar de tantos animais. “Foi nesse momento que uma amiga, vendo o meu desespero pra sustentar essa estrutura (ou a falta dela), decidiu criar um instagram pra mim, pra ver seu conseguia alguma ajuda. E de repente, comecei a ganhar seguidores. Um belo dia eu tinha 200, contribuindo pra comprar ração. Depois eu tinha mil, dois mil e hoje, nós temos 263 mil. E foi tudo orgânico, não planejamos, conseguimos com muito sofrimento. E eu louvo a Deus, porque esses seguidores são fantásticos, eles são a base de tudo na vida daqueles animais”.
Mudança
Devido à pressão de vizinhos, no bairro do Novo Mundo, Lerida precisou mudar o local de sua ONG recém-criada, a Anjinhos de 4 Patas, para o interior do estado. Primeiro, em Quebrangulo e hoje, em Paulo Jacinto. “Começou a gerar um atrito com a vizinhança. Até na igreja que eu frequentava, fiquei conhecida como a Louca dos Gatos. E tive que sair, da minha casa, uma casa muito boa, aluguei ela e sai da minha igreja, o que foi uma dor muito grande”.
“Então resolvi alugar um sítio e passei a morar lá somente com a companhia dos animais. E o local não tinha estrutura nenhuma, eu dormia na companhia deles, não tinha segurança e minha família começou a ter medo que me atacassem no sítio, que era uma antiga vacaria. E era distante da cidade e toda manhã eu ia a pé para lá, pra conseguir comer, pois não tinha nem estrutura na casa e nem tempo pra cozinhar. Infelizmente, para muitos os animais só devem ser criados se tiverem alguma serventia, algum uso como força de trabalho, o cachorro pra vigiar a casa, o gato pra atacar os ratos. Voltei a ser chamada de a louca dos bichos e começaram a jogar animais de rua dentro do sítio. As pessoas saíam da cidade e quando eu acordava, lá estavam as caixas com animais na minha porta”, conta Lerida.
“Eu procurei o prefeito da cidade, contei minha história, dos animais e ele acolheu nosso pedido. A partir daí, começamos realmente a trabalhar como uma associação, com CNPJ e eu não sabia fazer nada disso, não sabia nem mexer com o Instagram. Os seguidores que ajudaram em tudo isso, eles que me ajudaram a criar, vendo meu desespero. Depois disso, passamos a ter mais credibilidade e com isso o abrigo começou a atender gratuitamente outros animais de fora, pois passamos a ter condições de pagar uma veterinária. Cadastramos o abrigo no Conselho Regional de Veterinária, eles foram até o local e vistoriaram tudo e conseguimos aval para funcionar”.
Hoje, o abrigo funciona através das doações dos seguidores, não recebe nenhum auxílio do poder público e mantém mais de 2 mil animais, entre eles gatos, cachorros, cavalos e emprega cerca de 35 pessoas no município de Paulo Jacinto. “Temos hoje praticamente três quarteirões de abrigo. Todos os animais tem cama, os funcionários são divididos por afinidade e o Quatro Patinhas não tem uma causa trabalhista nesses 15 anos de funcionamento. Nós cuidamos da nossa equipe, da família de cada um”.
“Temos seguidores do mundo todo nos ajudando onde o poder público é ineficiente. O que eu vejo, nessa falta de empatia, é que pros outros é muito mais fácil matar do que cuidar de um animal. E luto exatamente contra isso!”, finaliza Lerida Lobo.
Fonte: Assessoria